Após a vitória do Palmeiras por 3 a 2 sobre o São Paulo no Morumbis, em clássico válido pelo Campeonato Brasileiro, mais uma vez vimos uma lamentável manifestação de preconceito nas redes sociais. O atacante palmeirense Vitor Roque publicou em seu perfil uma imagem de um tigre mordendo um veado, fazendo alusão ao apelido pejorativo e homofóbico historicamente usado contra a torcida são-paulina, e que remete ao seu próprio apelido, “Tigrinho”.

A atitude do jogador, que posteriormente apagou a postagem, reacendeu um debate urgente e necessário sobre a persistência da homofobia recreativa no futebol brasileiro. Esse tipo de manifestação, frequentemente disfarçada de “brincadeira” ou “provocação de torcida”, banaliza e normaliza um ambiente hostil e excludente, especialmente em um país que figura entre os que mais matam pessoas LGBTQ+ no mundo.
A Invisibilidade do Preconceito e a “Defesa Mútua” Masculina
É nítido para todo mundo que os casos de homofobia não recebem o mesmo repúdio e punição que outras formas de preconceito no futebol. O que para muitas pessoas envolvidas com esse esporte é visto como uma simples “brincadeira”, na verdade, sustenta uma cultura de violência verbal e exclusão.
O episódio de Vitor Roque infelizmente trouxe à tona a previsível “defesa mútua” entre homens no esporte. Ídolos do clube, como o ex-goleiro Marcos, saíram em defesa do atacante, minimizando a seriedade da postagem e insistindo que se tratava apenas de uma provocação de jogo. O atacante Neymar, elogiou a postura de Marcos, dando a concordar que pensa da mesma forma que o ex-goleiro. Essa postura reforça a ideia de que a homofobia é aceitável em um contexto de rivalidade e mostra a relutância em reconhecer que tais atos têm consequências reais e dolorosas para a comunidade LGBTQ+.

A autoconfiança de homens heterossexuais em definir o que é e o que não é homofobia , simplesmente ignorando a luta diária de tantas pessoas e coletivos LGBTQ+ é um reflexo do machismo estrutural que ainda domina o esporte.
Repúdio da Torcida Porcoíris
O coletivo Porcoíris, torcida LGBTQ+ do Palmeiras, se manifestou com uma nota de repúdio a Vitor Roque, expressando profunda decepção com a postagem. A torcida Fiel LGBT, torcida LGBTQ+ do Corinthians também se manifestou contra a atitude do jogador.
Em sua nota, a Porcoíris explicou que a associação com o termo “veado” é uma ofensa grave e não pode ser tratada como piada. Deixando claro que a postura do jogador fora de campo foi inaceitável, e que aquilo fere e ataca diretamente uma luta de anos da própria torcida palmeirense. Confira a nota abaixo:
“Nós, do Coletivo Porcoíris, repudiamos a postagem homofóbica feita por um dos jogadores mais importantes do atual elenco do Palmeiras. Homofobia não é rivalidade. É crime.
O post já foi apagado pelo atleta, mas reforça o comportamento homofóbico enraizado no futebol, que violenta a população LGBTQIAPN+ como um todo, e não apenas as pessoas envolvidas com esse esporte de forma mais direta, como torcedores e jogadores rivais. O Brasil é o país em que mais pessoas LGBTQIAPN+ são assassinadas em todo o mundo.
Nunca podemos comemorar plenamente uma vitória num Choque-Rei porque, seja nas arquibancadas, nas redes sociais ou dentro do elenco do próprio Palmeiras, há situações abjetas de homofobia. É ainda mais lamentável quando essa postura irresponsável vem de atletas que vestem nossas cores e representam nosso clube escudo. Discurso de ódio não é torcer. Homofobia é crime e a rivalidade não pode ser baseada em posturas criminosas.
O Palmeiras nasceu das diferenças e, por elas, continuará existindo.”
Até quando a homofobia será vista como uma “simples provocação” no nosso futebol?
Texto: Tainá Sena/Canarinhos