Nota de Solidariedade do Coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQ+
O Coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQ+, composto e gerido majoritariamente por pessoas LGBTQ+ Negras, vem a público manifestar nossa solidariedade a Luighi e a todos os atletas que já sofreram ou ainda sofrem com o racismo e outras formas de discriminação no esporte. Que esse episódio sirva como um alerta para que o futebol e a sociedade como um todo avancem na construção de um mundo mais justo, igualitário e livre de preconceitos. O futebol é de todos, todas e todes, e não há espaço para o ódio em um esporte que tem o poder de unir pessoas e transformar vidas.
Repudiamos ao lamentável episódio de racismo sofrido pelo jovem jogador Luighi, de 18 anos, e outros atletas do Palmeiras, durante a partida contra o Cerro Porteño pela segunda rodada da Libertadores Sub-20. O fato ocorreu no Estádio Gunther Vogel, no Paraguai, aos 36 minutos do segundo tempo, quando Luighi, ao ser substituído, foi alvo de gestos racistas por parte de um torcedor, que carregando uma criança no colo imitou um macaco direcionado ao atleta brasileiro.
Diante dessa situação, é inaceitável que, em pleno século XXI, ainda presenciemos cenas como essa, que ferem não apenas a dignidade do jogador, mas também a essência do esporte, que deve ser um espaço de união, respeito e celebração da diversidade. O racismo é uma chaga social que precisa ser combatida com veemência, assim como a LGBTfobia, e o futebol, como uma das maiores expressões culturais e sociais do mundo, não pode ser palco para a perpetuação de práticas discriminatórias.
É ainda mais preocupante que, ao alertar a arbitragem sobre as ofensas sofridas, Luighi tenha sido ignorado pelo árbitro Augusto Menendez, que permitiu que o jogo seguisse sem qualquer tipo de intervenção ou medida punitiva, embora exista um protocolo previsto pela entidade em conformidade com a FIFA e no seu regulamento disciplinar no Art 17. Essa omissão reforça a necessidade urgente de que as entidades esportivas, em especial a Conmebol, invistam na formação e capacitação de árbitros e demais profissionais envolvidos no esporte para identificar e agir diante de casos de discriminação racial, LGBTfobia e outras formas de opressão.
A cena de Luighi chorando copiosamente no banco de reservas e, posteriormente, questionando a imprensa sobre o silêncio em torno do episódio, é um retrato doloroso da realidade enfrentada por atletas negros no futebol e na sociedade como um todo. Suas lágrimas não são apenas de tristeza, mas também de revolta diante da repetição de situações como essa, que evidenciam a falta de ações efetivas para combater o racismo estrutural no esporte.
Nós, do Coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQ+, entendemos o futebol como uma ferramenta social poderosa, capaz de promover a inclusão, a diversidade e a transformação. Por isso, repudiamos veementemente qualquer forma de discriminação e exigimos que a Conmebol tome medidas concretas para coibir atos racistas e outras violências dentro e fora dos estádios e enviaremos sugestões em ofício para entidade. É fundamental que a entidade:
Puna os responsáveis: Identifique e puna de forma exemplar o torcedor que cometeu o ato racista, além de aplicar sanções ao clube envolvido com a exclusão do campeonato.
Capacite a arbitragem e outros operadores: Promova treinamentos e formações para que árbitros, comissões técnicas e outros saibam como agir diante de situações de discriminação durante as partidas.
Eduque e conscientize: Desenvolva campanhas de conscientização e educação contra o racismo, a LGBTfobia e outras formas de opressão, envolvendo torcedores, atletas e dirigentes.
Promova a inclusão: Crie políticas afirmativas que garantam a representatividade e a participação de pessoas negras, LGBTQ+, Mulheres e outros grupos marginalizados em todos os espaços do futebol.