
O Coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQ+ realizou um levantamento detalhado sobre o uso da camisa de número 24 durante a Copa São Paulo de Futebol Júnior (Copinha) de 2025, organizada pela Federação Paulista de Futebol e que teve seu final no dia 25 de janeiro de 2025. O estudo, baseado exclusivamente nas súmulas oficiais das partidas, apontou uma redução no número de equipes que utilizaram o número 24, em relação ao ano anterior. Uma novidade no levantamento é que conseguimos contabilizar a quantidade de vezes que a camisa esteve presente nos jogos e os atletas que mais utilizaram e os episódios de Homofobia que aconteceram durante os jogos.
Reforçamos que nosso papel foi exclusivamente o de observar e compilar os dados presentes nas súmulas, sem emitir juízos de valor ou relatar episódios específicos. Quaisquer ocorrências relacionadas a atos discriminatórios ou comportamentos inadequados durante os jogos são de responsabilidade dos árbitros e das autoridades competentes, que incluem os Clubes que disputam o campeonato, a Federação Paulista de Futebol e o Tribunal de Justiça Desportiva de São Paulo (TJD-SP).
No total, das 128 equipes participantes em 2025, 32 utilizaram a camisa 24, enquanto 96 optaram por não usá-la, o número representa uma redução de 6 equipes no uso da camisa 24 em relação ao ano anterior. Em 2024, 38 equipes haviam utilizado e 90 não usaram.
Desde 2022, ano que esse levantamento começou a ser feito, esse foi o ano que menos equipes usaram o número 24 na Copinha:
Ano - S - N
2022 – 43 – 85
2023 – 34 – 94
2024 – 38 – 90
2025 – 32 – 96
Usaram a camisa 24 em 2025:
Água Santa
Athletico Paranaense (PR)
Avaí (SC)
Brasiliense SAF (DF)
CA Bandeirante
Canaã EC (DF)
Comercial FC (Tietê)
Comercial RP
Corinthians
Cruzeiro EC (PB)
Cuiabá SAF (MT)
Desportivo Brasil
Estrela de Março (BA)
FAST Clube (AM)
Grêmio (RS)
Grêmio Novorizontino
Ibrachina FC
Itapirense
Juventude (RS)
Marcílio Dias (SC)
Mazagão AC (AP)
Palmeiras
Ponte Preta
Portuguesa Desp
Real Brasília (DF)
Red Bull Bragantino
Referência FC
Santa Fé FC
Taubaté
Trindade (GO)
Votoraty
Votuporanguense
Não usaram a camisa 24 em 2025:
AA Flamengo
AA Portuguesa
ABC (RN)
América (RJ)
América (SE)
América FC SAF (MG)
América FC SAF (RN)
Araguacema (TO)
Aster Itaqua
Atlético Goianiense SAF (GO)
Atlético Guaratinguetá SAF
Atlético Mineiro SAF (MG)
Audax
Azuriz SAF (PR)
Bahia SAF (BA)
Barra FC (SC)
Boavista SAF (RJ)
Botafogo
Capitão Poço (PA)
Capivariano
Carajás (PA)
CE Dom Bosco (MT)
Ceará (CE)
Coimbra EC SAF (MG)
Coritiba SAF (PR)
CRB (AL)
Criciúma (SC)
Cruzeiro SAF (MG)
Dourados (MS)
EC São Bernardo
Falcon (SE)
Ferroviária
Ferroviário AC (CE)
Flamengo (RJ)
Floresta (CE)
Fluminense (RJ)
Força e Luz (RN)
Fortaleza (CE)
Francana
Futebol Clube Cascavél (PR)
Gazin Porto Velho (RO)
Genus (RO)
Goiás (GO)
Guarani
Hercilio Luz FC SAF (SC)
IAPE (MA)
Imperatriz (MA)
Inter de Minas (MG)
Inter Limeira
Internacional (RS)
Ituano
Jaciobá (AL)
Juventus
Linense
Madureira (RJ)
Mirassol
Monte Roraima (RR)
Nacional
Náutico (PE)
Náutico (RR)
Nova Iguaçu (RJ)
Oeste
Operário (MS)
Operário (PR)
Piauí (PI)
Picos (PI)
Porto Vitoria FC (ES)
Retrô (PE)
Rio Branco (AC)
Rio Branco SAF (ES)
SAF Botafogo (RJ)
SAF Tirol (CE)
Santa Cruz (PE)
Santa Cruz Acre SAF (AC)
Santo André
Santos
São Bento
São Carlos FL
São José (RS)
São Paulo
Sergipe (SE)
Serra Branca EC (PB)
Sfera FC
Sport Recife (PE)
Suzano
Tanabi Esporte Clube
Tuna Luso (PA)
Tupã
União Atlética Araguainense (TO)
Vasco da Gama SAF (RJ)
Vila Nova (GO)
Vitória (BA)
Vitória da Conquista (BA)
XV Jaú
XV Piracicaba
Zumbi (AL)
O número 24 esteve presente em campo em 69 vezes durante os jogos, considerando tanto titulares quanto reservas, mas deixou de aparecer a partir da oitava rodada, ficando de fora da fase final do torneio.
Os atletas que mais utilizaram a camisa 24 foram Felipe Damasceno dos Anjos (Ibrachina FC) e Kauan Lima da Cunha (Palmeiras), que vestiram o número em 5 jogos cada. Em seguida, destacaram-se Diego Silva Souza (Água Santa), Murilo Felipe Tramontini (Grêmio), Pedro Henrique Martins Pereira (Grêmio Novorizontino) e Izaque Lucas Cruz Alves Ribeiro (Votuporanguense), que usaram a camisa 24 em 4 partidas.
Outros jogadores que utilizaram o número 24 em 3 jogos foram Pyetro Emanuel Oliveira e Silva (Athletico Paranaense), Arthur Rampineli Borghi (Corinthians), Francisco Geovanni Alves Júnior (Cruzeiro EC-PB) e Vinicius Rossener Fernandes Guede (Taubaté). Além disso, equipes como CA Bandeirante, Cuiabá SAF, Desportivo Brasil, FAST Clube, Juventude, Ponte Preta, Portuguesa Desportos, Red Bull Bragantino e Votoraty utilizaram a camisa 24 em duas oportunidades.
Já clubes como Canaã EC, Comercial FC (Tietê), Comercial RP, Estrela de Março, Itapirense, Marcílio Dias, Mazagão AC, Real Brasília, Referência FC, Santa Fé FC e Trindade usaram o número apenas uma vez durante o torneio.
A redução no uso da camisa 24, levando em consideração a cultura homofóbica que existe por trás desse número que começa desde a base como podemos notar. Chama a atenção para a necessidade de maior engajamento das equipes e instituições esportivas em iniciativas de inclusão. Ressaltamos ainda a importância de continuar monitorando e incentivando a visibilidade LGBTQ+ no futebol, sempre com base em dados concretos e oficiais.
Episódios de Homofobia
Em 2025 foram registrado quatro casos de homofobia em partidas da Copinha de 2025, todos foram registrados em Súmula pela arbitragem. Dois desses episódios foram protagonizados pela torcida do Audax, uma pela torcida do Vasco e uma pela torcido Juventus. Confira abaixo os relatos:
- Audax e Ferroviário em 06 de janeiro houve o registro em súmula:
“Informo que aos 18 minutos de partida paralisei a mesma, pois a torcida do Grêmio Osasco Audax Esporte Clube, estava gritando a palavra “bicha” para o goleiro da equipe Ferroviário Atlético Clube (CE), Sr. Carlos Henrique Silva Costa, n01, quando o mesmo recolocava a bola em jogo. Após conversar com o capitão do clube, o Sr. Felipe Alves Ribeiro, n03, ele pediu para que parassem. O sistema de som do estádio fez um comunicado também, e por fim pararam. Os gritos também foram escutados pelo quarto árbitro, José Claudio Ribeiro da Silva.”
2. Audax e Votoraty em 13 de janeiro houve registro em súmula:
“Informo que aos 66 minutos de jogo, a partida foi paralisada em virtude da torcida Grêmio Osasco Audax Esporte Clube por proferir frases homofóbicas ao goleiro adversário Matheus Henrique Felix da Silva.”
3. Vasco e Ceará em 15 de janeiro houve registro em súmula:
“Após o término da partida fui informado pela diretora de jogo a Sra. (R.B.N) que no início do segundo tempo foram identificados gritos de cunho homofóbico e sexual vindo da equipe mandante “VASCO DA GAMA SOCIEDADE ANÔNIMA DO FUTEBOL” sendo necessário ser anunciado no alto falante do estádio, informo ainda que não houve necessidade de paralização da partida.”
4. O jogo entre Vasco e Juventus em 13 de janeiro foi paralisado por cânticos homofóbicos contra o goleiro do Vasco, o Gabriel. O goleiro ainda ouviu sua namorada ser xingada pela torcida do Juventus. Eles descobriram o nome da jovem através do Instagram e os vídeos com as ofensas machistas circulam na internet.
A súmula diz:
“Informo que aos 11 minutos paralisei a partida após a torcida da Juventus proferir cânticos homofóbicos…”
“Informo que os dirigentes Sr.LUIS GRICHENO JUNIOR e ANDERSON LIMA da equipe do Juventus, identificados pelo diretor de jogo Sr. Ramon Lopes Campos Dantas, Ambos vieram em nosso vestiário solicitando a entrada para uma conversa, sendo negado por mim, a partir desse momento os dois diretores se exaltaram dizendo as seguintes palavras,” palavras ditas pelo Sr. LUIS GRICHENO JUNIOR ” você é arrogante e f… com o trabalho nosso, vou f… com sua carreira você nunca mais vai apitar na sua vida. Palavras ditas pelo Sr Anderson Lima ” eu só quero entrar pra conversar, você é muito arrogante. Ambos tiveram que ser contidos pela polícia”.
Os episódios foram registrados seguem para o Tribunal de Justiça Desportiva de São Paulo para apreciação da procuradoria e auditores, caso condenados os clubes podem sofrer sanções baseadas no Regimento Geral das Competições da FPF conforme artigos abaixo:
Art. 9º – As ofensas propaladas contra a honra, dignidade ou decoro de um indivíduo, consistentes na utilização de elementos referentes a sua raça, cor, etnia, religião, origem, orientação sexual ou identidade de gênero, estarão sujeitas às seguintes penalidades:
I. Suspensão por partida;
II. Suspensão por prazo;
III. Multa de R$5.000,00 (cinco mil reais) a R$400.000,00 (quatrocentos mil reais), e/ou;
IV. Proibição de exercer qualquer atividade junto à FPF por tempo indeterminado.
§ 1º – Os dirigentes, atletas, membros de comissão técnica, médicos, membros de equipe de arbitragem, diretores do jogo, gerentes de operação de jogo, observadores das partidas ou qualquer outro membro designado pela FPF, que tomarem conhecimento de quaisquer práticas ou tentativas de infração descritas no capítulo, ficarão obrigados a relatar o ocorrido à Comissão de Ética da FPF, sob pena de aplicação das mesmas sanções previstas neste artigo.
§ 2º – As infrações tipificadas neste dispositivo autorizam a FPF a suspender preventivamente, e com efeitos imediatos, o autor, coautor e/ou partícipes até julgamento pela JD ou pela Comissão de Ética da FPF.
§ 3º – Sem prejuízo das sanções administrativas, a FPF encaminhará toda a documentação disponível à JD e às autoridades competentes.
Art. 10 – De forma a salvaguardar a credibilidade das Competições e a difundir a mensagem de igualdade e respeito a todos, a FPF e os Clubes adotarão medidas preventivas voltadas ao combate ao racismo, à homofobia e outras formas de ofensas discriminatórias graves ou intolerância nos estádios de futebol.
Ainda não há informações sobre os julgamentos, assim que houve decisão do tribunal traremos ao conhecimento do público.
Texto: Onã Rudá/Tainá Sena/Canarinhos