Nem mesmo a tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul, que afetou mais de 2 milhões de pessoas e deixou quase duas centenas de mortos, foi capaz de sensibilizar parte da torcida do Flamengo que entoou cânticos ofensivos direcionados ao povo gaúcho e à torcida do Grêmio nesta quinta-feira, no Maracanã.
Já no segundo tempo da partida, quando os donos da casa venciam por 2 a 0, uma parcela considerável de torcedores rubro-negros puxou grito homofóbico habitual nas arquibancadas em jogos contra equipes gaúchas. Apesar das ofensas discriminatórias, o árbitro Luiz Flávio de Oliveira não paralisou o jogo, tampouco o sistema de som do estádio foi acionado para repreender a torcida.
Graças à vista grossa da arbitragem, que tem ignorado reiteradas manifestações preconceituosas de parte da torcida rubro-negra, o Flamengo escapou de punição no ano passado por causa de cânticos homofóbicos em clássico diante do Fluminense. A denúncia acabou arquivada pela Procuradoria do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), já que o árbitro Wilton Pereira Sampaio não parou a partida nem relatou o incidente em súmula.
Até hoje, cinco anos depois da criminalização da LGBTfobia no Brasil, o Corinthians foi o único clube de primeira divisão punido com restrição de público no estádio devido a atos homofóbicos de seus torcedores. Para isso, foi fundamental a postura da arbitragem da partida, que paralisou o clássico contra o São Paulo assim que os primeiros cânticos discriminatórios foram ouvidos e acionou o protocolo de alerta à torcida corintiana, que seguiu proferindo as ofensas.
Também no ano passado, o sistema de som do Maracanã salientou aos torcedores do Vasco sobre o risco de punição caso continuassem entoando cântico homofóbico em clássico contra o Flamengo. Após o aviso sonoro e a exibição de mensagem nos telões do estádio, os gritos ofensivos cessaram, e o árbitro não precisou paralisar a partida.
Quando não há postura vigilante da arbitragem, a denúncia deixa de ser protocolada por órgãos da Justiça Desportiva e fica a cargo de entidades independentes, como o Coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQ+ ou o Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBT, responsável pela última notícia de infração envolvendo a torcida do Flamengo.
Pela reincidência, inclusive, é urgente que a Procuradoria do STJD passe a ser mais proativa, não dependendo de denúncias externas para denunciar e punir os cânticos homofóbicos da torcida do Flamengo ou de qualquer outro clube, como prevê a legislação. A cultura intolerante nos estádios só vai mudar a partir do momento em que sanções esportivas por discriminação se tornarem comuns e irrestritas.
Fonte: https://www.terra.com.br/esportes/colunistas/breiller-pires/gritos-homofobicos-de-torcedores-do-flamengo-contra-o-gremio-devem-ser-punidos,613242f3185c4ab419380bdc9b9793b04hyd3a0c.html